43 - quem me dera

Sim, ninguém sabe, ninguém é capaz de saber se quer o quanto trabalhei sozinha, o quanto me auto-motivei, quantos problemas enfrentei , ninguém sabe quantas vezes gritei e chorei , só uma pessoa sabe por quanto passei, só ela sabe o quanto pedi forças para voltar a ter coragem para pôr os pés na competição e nos treinos , ninguém sente nada do que eu sinto cada vez que eu piso a pista, ninguém sente a minha impotência , ninguém sente a minha angústia, ninguém vê o meu olhar por de trás de uma lágrima , ninguém repara no quanto eu sofri, ninguém repara no meu desespero, ninguém sabe, mas ninguém sabe mesmo o quanto eu lutei para poder voltar a ter tudo o que tinha bem antes desta lesão e da anterior, ninguém sabe quantas horas sacrifiquei de sono para que tudo na minha vida pudesse dar certo, mais ninguém sabia o quanto doia treinar sozinha, o quanto custava olhar e não ver ninguém , o quanto custava não ter ninguém a se quer querer saber o que fazias durante esse tempo, ninguém perguntava, ninguém se interessava, ninguém se preocupava em saber se me andava a aguentar. Mas no final toda a gente percebe, toda a gente diz " eu imagino " ... , mas não ninguém imagina o que é TREINAR duro e ninguém querer saber, ninguém se importar. Toda a gente percebe que eu sou fraca atleta, mas uma forte guerreira. Toda a gente sabe, toda a gente sabe os problemas da minha vida, e toda a gente sabe o meu passado, não me importo que ninguém saiba, porque essa sou eu, e essa é a minha vida, esse é o meu passado.
Tenho, tenho pena de não ter sido mais, porque podia ter sido, tenho pena que ninguém tenha investido mais em mim, tenho, tenho pena que me tenham deixado de lado, tenho pena que não se importem e que só me queiram para segunda escolha, tenho pena que me tratem como me tratam, tenho pena que não percebem que para eu treinar dependo dos outros e não só de mim, tenho pena que não entendam tudo pelo que passei. Tenho pena que já tenham desistido de mim, tenho pena que não me queiram apoiar, tenho pena de já não interessar para nada, tenho pena de estar na mó de baixo e de ninguém querer saber. Tenho até pena de mim por estar aqui a escrever algo que ninguém vai ler e ninguém quer saber. Tenho pena de tudo o que sacrifiquei na minha vida pelo atletismo, e agora merecer um canto de atenção, tenho pena que as pessoas quem eu considerava família e super importantes na minha vida me abandonaram e desistiram de mim e do nosso sonho, porque pensava que era mútuo a única coisa que se interessavam afinal era pelas marcas que poderia alcançar se não me lesionasse, agora que estou no fundo, simplesmente ninguém quer saber, ninguém se interessa. Não sou ninguém, nunca fui ninguém, não vou ser ninguém no atletismo. Deixo aqui o meu descontentamento (...). Fui feliz sim, mas ou as pessoas estão de coração umas pelas outras ou estão por interesses, por aquilo que tu podes dar, ou estão contigo do início ao fim ou não valem NADA.  Como já não sou nada já não interessa treinar-me , já não interessa superar-me , já não interessa representar ninguém, já não interessa o esforço e a dedicação , já não interessa nada, porque NUNCA mais serei nada de especial. E isso dói, e ninguém sabe o quanto dói, tinha tudo para ter sucesso, "mas como te lesionaste nunca mais terás esse sucesso e por isso não me interesso" - passa-me esta frase montes de vezes perla cabeça. Eu pensava que era "treinada" pela pessoa que eu sou, pelo gosto enorme que tenho por isto e por todo o empenho que treino, mas no final das contas é tudo uma ilusão. 

Por fim, estar um ano fora por problemas pessoais mais lesão, estar fora de novo de todos os nacionais para a qual lutei (privando-me de muitas coisas que me vao ser cobradas mais à frente) deixa-me triste como a noite, tenho marcas para estar presente em nacionais ( que são IMPORTANTES PARA MIM) e fazem-me sentir-me uma pedra no meio do caminho, sinto-me magoada, sinto-me posta de lado, sinto que não tenho qualquer valia para essa gente.
Sentir que tenho longos meses de recuperação pela frente pôs operação é que a minha margem de progressão no atletismo está cada vez mais diminuída e ver que ninguém está interessado em mim, em me motivar, em acreditar em mim e em dizer " tu vais voltar , tu vais valer a pena", em que mesmo que nunca mais irá valer o que valia, sinto-me meio que rasgada no coração. Não contava que me fizessem tal coisa, não contava ver atitudes , e sentir a indiferença de alguém que em tantos anos esteve ao meu lado nesta luta, dói muito e que agora NEM SE QUER ACREDITA EM MIM, nem se quer se preocupa é nem sequer me quer treinar. É duro. 
Ninguém está à espera disto depois de tantos anos a acreditar , depois de tantos anos a sacrificar amizades, família, gostos pessoais, depois de tanta luta econômica, depois de tanto esforço, vejo-me neste duelo de sentimentos de abandono, como se nada que eu tivesse feito, ou nada do que eu possa fazer daqui para a frente valha alguma coisa. 
Magoa-me perfundamente isto que eu sinto. 



2015 - CAMPEONATO DE PORTUGAL DE PROVAS COMBINADAS . 

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