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Sabes aquela dor que te assombra quando te deitas à noite? Aqueles pensamentos atribulados que te dizem que fizeste algo de errado? 

Aquelas palavras que te ficaram na memória mesmo passando milhares de anos? Aquelas imagens a perto e branco que te assaltam e que te fazem andar no mundo onde ninguém morre? Eu hoje estive nesse reino, nesse reino onde ninguém morre, a infância, via-te nesses momentos tão tenros, lembra-me da tua mão a passar-me na cabeça enquanto fumavas o teu cigarro, que te fazia tão mal, lembro do teu rosto magrinho a pedir-me que ficasse só mais um bocadinho, lembro-me do teu adeus quando me ia embora, lembro-me de te ver sorrir por coisas que ninguém compreendia, ouvia o som da tua voz a dizer 'anda Sarinha!'. Via-te mostrar o amor verdadeiro entre filho e mãe , sabia que eras diferente de todos, mas nada disso me fez gostar menos de ti, tudo isso me fez lembrar-te com mais carinho. Toda a gente te queria calado, menos eu, toda a gente queria que fosses menos bruto, menos eu, toda a gente tinha medo de ti, menos eu, algumas pessoas tratavam-te mal, menos eu. E eu abraça-te todas as vezes que fossem precisas, dizia-te vezes sem conta para teres calma, porque tu não eras mau, eras apenas diferente. Diferente no sentido real. No sentido psicológico. E no sentido emocional. Eras diferente, tão diferente que é por essa diferença que acho que foste o melhor que podias ser na circunstância da tua vida. 

Ao final de tantos anos a única coisa que ficou por dizer foi: "desculpa não ter estado quando mais chamaste por nós , desculpa , mas a vida dá tantas voltas, desculpa-me tio" .

Impossível esquecer este vazio.